POETAS DE PARABÉNS
ALEXANDRE HERCULANO
RESIGNAÇÃO
No teu seio, reclinado
Dormirei, Senhor, um dia,
Quando for na terra fria
Meu repouso procurar;
Quando a lousa do sepulcro
Sobre mim tiver caído,
E este espírito afligido
Vir a tua luz brilhar!
No teu seio, de pesares
O existir não se entretece;
Lá eterno o amor florece;
Lá florece eterna paz:
Lá bramir junto ao poeta
Não irão paixões e dores,
Vãos desejos, vãos temores
Do desterro em que ele jaz.
Hora extrema, eu te saúdo!
Salve, ó trevas da jazida,
Donde espera erguer-se à vida
Meu espírito imortal!
Anjo bom, não me abandones
Neste trance dilatado;
Que contrito, resignado,
Me acharás na hora fatal.
E depois... Perdoa, ó anjo,
Ao amor do moribundo,
Que só deixa neste mundo
Pouco pó, muito gemer.
Oh... Depois... Diz à mesquinha
Um segredo de doçura:
Que na pátria o amor se apura,
Que o desterro viu nascer.
Que é o Céu a pátria nossa;
Que é o mundo exílio breve;
Que o morrer é cousa leve;
Que é princípio, não é fim:
Que duas almas que se amaram
Vão lá ter nova existência,
Confundidas numa essência,
A de um novo querubim.
Alexandre Herculano
De seu nome completo Alexandre Herculano de Carvalho Araújo nasceu em Lisboa,
em 28 de março de 1810 e faleceu no seu retiro de Santarém, em 13 de setembro de 1877.
Notabilizou-se como historiador, dramaturgo, jornalista e poeta da era do Romantismo.
Defendeu a causa liberal, pela qual lutou militarmente tendo participado no Cerco do Porto.
Acabou por recusar as honrarias que lhe foram concedidas.